sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Gui Gui
Está próximo o dia em que será possível ter um autômato para ajudar nas tarefas de casa. Ao contrário da ficção científica, não existem planos de dominação mundial pelas máquinas.
A ficção científica pinta – na maioria das vezes – as máquinas como as grandes vilãs das histórias que envolvem robôs. Desde o Exterminador do futuro até as máquinas de Matrix, o cinema pinta a robótica como uma ciência fadada a substituir a humanidade com seus produtos mecatrônicos. Porém a mesma ficção que gerou os algozes do Homo sapiens também mostrou seus salvadores, como em Wall-E da Disney-Pixar.
A história inventada
Apesar de muitos acreditarem que a robótica é uma tecnologia moderna, os primeiros estudos sobre autômatos são tão antigos quanto a civilização. Já na Grécia antiga existiam aparelhos que – através de pesos e bombas pneumáticas – agiam sozinhos. Porém muito tempo passou antes de surgir uma aplicação real para a técnica.
Na Renascença – período compreendido entre o final do século XIII e meados do século XVII – vários artistas e artesãos construíam pequenas máquinas de ativação própria. Leonardo DaVinci, ao estudar a anatomia humana para melhorar a qualidade de seus desenhos e pinturas, acabou por desenvolver diversos modelos de bonecos que moviam mãos, pernas e alguns eram até mesmo capazes de escrever ou tocar instrumentos musicais .
A tecnologia desenvolvida na Renascença com esses artefatos – tratados como meras curiosidades técnicas e artísticas – acaba por gerar conhecimento que logo depois seria transformado nas primeiras máquinas automáticas responsáveis pelo advento da Revolução Industrial.
Um dos grandes cientistas envolvidos com a robótica foi Nikola Tesla (1856-1943), sérvio radicado nos Estados Unidos, que estudava não apenas máquinas controladas à distância, mas também, segundo o pesquisador, “[...] máquinas dotadas de sua própria inteligência. Como o período da evolução avançou, penso também que não está longe o tempo em que mostrarei uma automação que, deixada por si, irá agir como dotada de razão e sem qualquer controle voluntário do exterior”.
Percebam que até então, ninguém utilizava o nome robô para suas invenções. Este termo (e sua contraparte inglesa robot) vem da palavra de origem checa robota – trabalhador que realiza serviço compulsório – inventada por Karel Čapek (1890-1938). Escritor, Čapek é autor de uma peça de teatro conhecida como R.U.R (Rossum´s Universal Robots – Robôs Universais de Rossum), onde um gênio desenvolve uma substância especial, e começa a construir humanoides – robotas – para substituir o homem no desempenho de tarefas físicas.
Depois da primeira aparição “oficial” dos robôs na ficção, eles nunca mais pararam de surgir. Entre os mais famosos estão os robôs positrônicos de Isaac Asimov (1920-1992), que formam a base do livro de contos Eu, robô – mais tarde adaptado para o cinema – e a série de livros de contos intitulada “Robôs”. Asimov foi tão importante para a concepção de robôs através de suas obras que a Honda batizou um de seus humanoides de Asimo como homenagem ao autor.
No Brasil, Marcelo “Paladino” Cassaro publicou em 1995 o romance Espada da Galáxia, em que descreve a luta entre duas formas de vida alienígena: os metalianos - única raça biometálica inteligente do Universo – e os traktorianos – originários de um planeta semelhante à Terra, mas devastado pela depredação tecnológica. No livro, os traktorianos se utilizam de corpos robóticos para poderem viver.
A sétima arte robótica
No cinema os robôs foram explorados das mais diversas maneiras. Em momentos são tratados quase como humanos, como em O homem bicentenário (1999) – baseado em obra homônima de Asimov – enquanto em outros apresentam civilização independente da humana, como em Transformers (2007). Desde Metropolis (1927) até O Substituto (2009), são vários os títulos que utilizam androides como base de seu roteiro.
As Três Leis da Robótica
Em “Eu, robô”, Isaac Asimov postulou as Três Leis da Robótica, condições de coexistência de robôs e humanos, que serviriam principalmente como forma de prevenir perigos que as máquinas pudessem representar – e que foram exaustivamente explorados por outros autores:
1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com as Primeira e Segunda Leis.
Mais tarde, em “Os robôs do amanhecer”, Asimov complementa as Três Leis com a chamada Lei Zero:
Lei Zero: Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por omissão, permitir que ela sofra algum mal.
A importância do material de Asimov para ficção é tanta que suas Leis da Robótica foram usadas em diversas outras obras de ficção – na íntegra ou adaptadas – como em Robocop (1987), em que a empresa OCP imprime diretrizes de segurança baseadas nas Três Leis no protótipo que dá nome à obra.
Apocalipse androide
A paranoia da ficção científica em relação à dominação dos robôs sobre humanos é considerada por muitos como um retrato da luta de classes em que uma maioria servil – como as máquinas da série Exterminador do Futuro e da trilogia Matrix – se revolta e domina a minoria humana e controladora. É curioso perceber que todas as obras das franquias citadas criam uma inversão de papéis em que o homem – antes dominador – se vê no papel de dominado.
Uma outra versão também trágica é apresentada na animação Wall-E, onde a humanidade abandona o planeta quando este não é mais capaz de sustentar a vida devido à poluição. Porém a missão de Eve – uma das personagens principais do filme – é de reaver vestígios de flora que possam um dia permitir a volta para casa.
Quase humanos
Diversos filmes exploram a relação entre humanos e robôs, principalmente quando as distinções entre ambos são mínimas, como Blade Runner (1982). Em ambas as trilogias de Star Wars (1977-2005) os robôs C-3P0 e R2-D2 são companheiros de aventura de duas gerações de personagens, enquanto os vilões da história – conhecidos como Sith – se utilizam de droids como exército.
Uma faceta ainda mais pessoal é dada ao drama de um robô em A.I. – Inteligência Artifical (2001). No filme – considerado uma adaptação high-tech do clássico Pinnochio – um androide em forma de criança empreende uma jornada até a terra mítica de Man-Hattan para se tornar um menino de verdade.
Na vida real
Apesar da grande influência da ficção na ciência e tecnologia modernas, ainda há um grande caminho a ser percorrido até a construção de equipamentos sofisticados a ponto de conseguirem se passar por humanos. Fora da fantasia, robôs existem e são utilizados principalmente em tarefas físicas – um cenário não muito distante daquele descrito por Čapek em R.U.R.
Muitos consideram Tesla o inventor do primeiro robô, depois de sua apresentação do barco teleoperado em 1989. A Westinghouse – empresa de eletrodomésticos – apresentou nas feiras mundiais de 1939 e 1940 o Elektro, protótipo humanoide e, em 1948, o inglês Grey Walter construiu o primeiro robô autônomo eletrônico. Porém estes protótipos não foram produzidos em escala industrial, nem comercializados.
O primeiro robô industrial foi o Unimates – desenvolvido por George Devol e Joe Engleberger para a General Motors – em 1961. Ativado por comandos passo a passo armazenados em tambores magnéticos, o Unimates assumiu – na linha de montagem – tarefas nocivas a seres humanos como a remoção de peças pintadas da área de pintura até a solda de partes da carroceria. Os inventores responsáveis pelo Unimates assumiram um compromisso mútuo em 1956 para desenvolver um robô após um encontro onde discutiram diversos tópicos de ficção científica.
O equipamento – que apresenta seis graus de liberdade, ou tipos de movimentos diferentes que pode realizar – continua sendo usado até hoje em diversas indústrias, aproveitando os mais de trinta anos de desenvolvimentos tecnológicos para aumentar sua eficiência. O sistema de controle do Unimates também é utilizado até hoje por sua simplicidade, servindo como ferramenta didática para o ensino de robótica básica.
Em nome da ciência
Robôs são muito utilizados em diversos campos da pesquisa científica. Em alguns casos – como a exploração espacial – por exigir menos cuidados e apresentar menos exigências do que um humano. O Sojourner foi enviado a Marte para recolher – durante mais de um mês terrestre – informações e imagens sobre o planeta vermelho. Dispositivos semelhantes são usados para a exploração de vulcões e de outros ambientes inóspitos na Terra. Recentemente o diretor de cinema James Cameron (Titanic, 1997) em 2003 voltou ao local do trágico naufrágio, desta vez com robôs – cada um custando aproximadamente US$ 1 milhão – para filmar Ghosts of the Abyss, um documentário em 3-D sobre o navio inglês.
Outro campo de pesquisa que tem se desenvolvido muito é o da robótica social, que pretende descobrir o impacto que a convivência com robôs pode ter sobre os indivíduos e principalmente sobre a sociedade como um todo. As pesquisas nessa área se iniciaram com Grey Walter e se desenvolveram ainda mais com o surgimento das primeiras inteligências artificiais no começo da década de 1990. É nessa área que as Três Leis postuladas por Asimov em Eu, robô atravessam a fronteira da ficção para a realidade, como um dos testes – no caso, como verificação de comportamento – para a definição de robô social. O outro teste necessário é o teste de Turing, que define a capacidade de inteligência do robô. Existem algumas discordâncias sobre a utilização de apenas estes testes, já que ambos excluem as interações entre dois ou mais robôs, considerando apenas válidos os resultados obtidos a partir da interação homem-robô.
Salvando vidas
Entre os muitos desenvolvimentos técnicos da robótica, poucos são tão impressionantes quando os avanços na área médica. Graças a robôs telecontrolados, hoje é possível um cirurgião na Suíça operar um paciente aqui no Brasil, em casos onde a remoção do paciente para outra localidade seria impossível ou arriscada.
Entre os vários benefícios trazidos pelos robôs para a medicina estão cirurgias mais precisas e menos invasivas, diminuição da dor e da perda de sangue. Entre as especialidades que se utilizam de robôs para realização de cirurgias estão: cirurgia geral, cardiologia, cirurgia gastrointestinal, ginecologia, neurocirurgia, oncologia, pediatria e muitas outras.
Entretanto, há muito para se avançar neste espaço. Os robôs ainda são muito caros, embora ocasionalmente não custem tanto quanto os honorários de um especialista, especialmente no caso de robôs com inteligência artificial para cirurgias rotineiras.
escrito por:guilherme faleiros
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